De acordo com a auditoria no Sistema de Regulação, 78.704 pessoas – o equivalente a todos os moradores dos dois bairros mais populares da cidade – esperam há meses ou até anos por uma consulta médica. Outros 26.343 aguardam para fazer exames.
A fila é maior para consulta em neurologia adulto, com 8.668 pacientes a espera de um médico. O segundo serviço com maior demanda reprimida é a psiquiatria, com 6.497 doentes a espera apenas da consulta. A situação se agravou no ano passado com o fechamento do setor pela Santa Casa de Campo Grande, apesar dos protestos de profissionais, doentes e até da Defensoria Pública.
Até consulta com um cardiologista está difícil nos postos de saúde da Capital, já que 6.382 pessoas com suspeitas de problemas no coração estavam aguardando vaga. Na prática, muita gente vai morrer de infarto a espera da consulta.
Considerada uma doença grave e irreversível se não for tratada precocemente, já que pode deixar o paciente cego, o glaucoma tem 1.803 pessoas na fila de espera por uma consulta médica.
O sistema regulador conta com 4.860 pessoas a espera de consulta na área de cirurgia geral adulto. Neste segmento está o maior tempo de espera, segundo a CGU, 2.556 dias, ou exatamente sete anos e um dia.
Outro setor com demora assustadora é para cirurgia ortopédica, onde o tempo de espera chega a três anos e 10 meses (1.406 dias).
Ao ver a campanha para realizar exames para detectar o câncer de pele, o cidadão vai se sentir alvo de chacota. De acordo com a CGU, o tempo de espera por uma consulta com dermatologista chega a 2.218 dias na Capital, ou seja, seis anos e 28 dias.
O câncer em geral é outro drama para depende da rede pública. Segundo a auditoria, a espera por uma simples consulta na área de oncologia demora até 360 dias.
O tempo de espera por uma tomografia chega a 522 dias. Criança com necessidade de fazer eletroencefalograma está na fila há 630 dias, quase dois anos.
O pior de tudo é que não há perspectiva do problema ser solucionado no curto prazo. A maior parte dos hospitais da Capital realiza pouca cirurgia eletiva.
Para agravar a situação, conforme a CGU, de 35% a 49% dos pacientes não compareceram na data agendada para a consulta ou exame médico. Este alto índice de abstenção decorre de vários fatores, como a demora em marcar a consulta, a data agendada não ser adequada ao paciente, a dificuldade de locomoção e do agendamento ter sido informado por terceiro.
De acordo com a CGU, 40% dos responsáveis pela regulação das consultas e dos leitos em hospitais não são médicos ou enfermeiros. Para fazer plantão, a prefeitura colocou até programador de sistemas (de informática) e auxiliar administrativo.
O relatório só expõe em números o drama da saúde pública.
Outro caso é o Hospital do Trauma, inaugurado em abril, mas que só começou a funcionar há poucos dias em decorrência da campanha eleitoral. A Santa Casa informou que vai ativar gradualmente as vagas, mas que o repasse do dinheiro só começará a ser feito pelo município, Estado e União a partir de outubro.
E se o repasse não for feito depois de fechada as urnas, o que acontecerá com o Hospital do Trauma?