Poluição da Capital atinge rio Tietê na região de Araçatuba

Segunda, 29 Abril 2019 09:58
O maior problema do "rio verde" é o impacto turístico e a mortandade de peixes (Foto: Manu Zambon)
 
 

O despejo de esgoto tratado ou não no rio provoca o crescimento excessivo de algas

 

O maior problema do "rio verde" é o impacto turístico e a mortandade de peixes (Foto: Manu Zambon)
 

O esgoto sem tratamento de grandes cidades, entre elas, a capital paulista e Bauru, é o principal alimento para a superpopulação de algas no Tietê, em Araçatuba (SP). O rio é responsável pelo abastecimento de 30% da população de Araçatuba e, segundo a Samar (Soluções Ambientais de Araçatuba), o tratamento detecta e elimina todas as toxinas da água, tornando-a segura para o consumo.

Na semana passada, a Prefeitura de Araçatuba instalou placas na prainha municipal orientando a população a não entrar na água do rio.

A medida foi tomada pelo Executivo após recomendação da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) para que a população evite o contato com a água. Pesca, banho e uso da água sem tratamento prévio devem ser suspensos, pois o rio está com mau cheiro devido à quantidade de algas, e há peixes mortos.

Além da prainha, que viu o movimento de turistas despencar, o problema atinge condomínios que estão às margens do rio e pescadores.

De acordo com a Cetesb, que está acompanhando as ocorrências de alteração na cor da água ao longo do Tietê, as primeiras análises apontaram algas que se proliferam em razão da presença de nutrientes, principalmente o fósforo, e das elevadas temperaturas. Não foram fornecidos detalhes sobre a origem desses nutrientes.

Esgoto

Ricardo Molto Pereira, que é mestre em recursos hídricos e tecnologias ambientais e membro do grupo de pesquisa SOS Rio Tietê, afirma que a origem do problema está no descarte de esgoto in natura de grandes cidades, entre elas, São Paulo e Bauru, e outras que estão à montante do Tietê.

“A gente acaba pagando o pato pela poluição de toda a montante. Basta ver que em épocas de chuva na capital, dias depois, a região de Sabino (município pertencente à região de Lins) fica totalmente eutrofizada, e isso ocorre há anos”, exemplifica.

O despejo de esgoto tratado no rio influencia o processo de eutrofização - quando um corpo d’água adquire altos níveis de nutrientes, provocando o crescimento excessivo de algas e de outras plantas aquáticas e a deterioração da qualidade da água.

Segundo Molto, a legislação brasileira é muito branda em relação à remoção de nutrientes. “Municípios que não tem tratamento de esgoto, liberam matéria orgânica no rio e os que têm, também liberam, mas estão dentro do que é exigido pela lei”, explicou Molto, que é também coordenador da pós-graduação em saneamento e meio ambiente da Unilins.

Cílios

A segunda causa do problema são as matas ciliares, ou melhor, a falta delas. “A maioria dos cursos d’água não tem uma vegetação que funcione como barreira para esses nutrientes. Além do esgoto, tem a parte de fertirrigação (técnica de adubação que utiliza água de irrigação para levar nutrientes ao solo), que acaba indo para o rio por falta dos cílios”, afirma, ressaltando que essa é uma causa secundária.

 
A água do rio, sem o tratamento, não pode ser manipulada e/ou ingerida (Foto: Manu Zambon)

Perigos

O maior problema da eutrofização é o impacto turístico e a mortandade de peixes no ecossistema aquático enquanto o problema persistir - a própria hidrodinâmica do rio deve afastar as algas da região, segundo o ambientalista.

Mas, enquanto elas estiverem presentes, deve-se evitar comer peixes retirados das áreas afetadas do rio, uma vez que os aguapés podem produzir toxinas que os peixes comem.

A água do rio, sem o tratamento, não pode ser manipulada e/ou ingerida. “No entanto, com o tratamento adequado, é possível o consumo sem problemas”, afirma Molto.

Samar

A Samar afirma que está atenta à situação da água do rio Tietê e garante que não há risco de interrupção na captação. Atualmente, cerca de 30% da população de Araçatuba é abastecida pelas águas do rio; são mais de 30 bairros atendidos na região norte.

A concessionária explica que o tratamento da água na ETA Tietê é feito pelo processo de flotofiltração, ou seja, as partículas sólidas da água são separadas por meio da introdução de microbolhas.

“Esse processo é o mais moderno e eficaz na eliminação das microalgas e das toxinas que elas possam conter. Portanto, a água distribuída para os moradores da zona norte de Araçatuba é da melhor qualidade e atende os padrões de potabilidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde”, afirma a concessionária.

AInda conforme a empresa, a população pode continuar consumindo a água que chega às torneiras com segurança. “A Samar mantém um rígido controle de qualidade da água distribuída por meio de quase 19 mil análises por mês em cada sistema de abastecimento.”

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