Uma das festas mais esperadas do ano era a EXPOAN. Época de engraxar a bota, preparar o chapéu, juntar a grana e ir para o melhor e maior evento de todo o ano da cidade.
Invariavelmente estava frio. Éramos todos adolescentes na casa dos 17 anos. Íamos em bando e na volta, cansados, tentaríamos pegar “rabeira” na carroceria das camionetes que voltavam de lá até algum lanche que estivesse aberto.
A ida para lá já era uma festa. O trânsito travava já perto do estádio. Levava-se mais de uma hora até o recinto, além de ter que passar por aquele bando de indivíduos de lanternas na mão tentando “pescar” algum cliente para os estacionamentos improvisados nos terrenos baldios, onde eles juravam que iriam cuidar dos veículos, mas que na volta estariam abandonados, pois todos os “cuidadores já teriam ido embora antes.
Na chegada, a multidão se acotovelando para entrar, o burburinho, gente bonita, chapéus e mais chapéus, botas, jaquetas de couro e risadas mil…
Já nos primeiros passos, do lado direito, a fazendinha com seus riozinhos e usinas com comportas e turbinas, currais, plantações, um mini mundo que representava fielmente a realidade rural de nossa cidade pelos idos de 1990.
Logo depois, quase em frente ao restaurante, cheio de gente chique, a exposição de máquinas imensas, com pneus gigantes e preços idem. Ali do lado a barraca dos móveis rústicos, mesas gigantescas, placas de fazenda, retratos da Santa Ceia, que custavam o preço de um carro quase, que olhávamos e só.
Subindo a rua principal, passando o restaurante do pessoal chique, “bora” andar mais.
Já na primeira curva à direita começava a exposição das concessionárias, um monte de veículos e motos reluzentes, um mais lindo que o outro (me lembro de uma vez ao passar no estande da Safira, lá estava o carro do ano, Monza Classic 4 portas, e sobre ele uma placa onde se lia: Vendido para Orensy Rodrigues da Silva).
Na rua de cima, os atores principais da festa, os animais. Nos vários galpões, cada um com o nome de um pecuarista importante do passado, os bois deitados ruminando, um mais branquinho que o outro, um mais “de boas” que o outro, como se soubessem que ali estavam protegidos. Nas baias os cavalos com seus pelos sedosos e crinas meticulosamente cortadas, prontos para darem o espetáculo no picadeiro onde seriam julgados por sua beleza. No fim da ruazinha ficava o Posto Policial onde os Policiais Militares se reuniam para planejar e executar o policiamento do evento.
Seguindo pela ruazinha chegávamos às lanchonetes com seus lanches fumegantes, dogs com um milhão de acompanhamentos, crepes que tinham fila de uma hora.
Depois de ver tudo, encontrar os amigos, ficar com a “beiça” roxa de tanto frio (sim jovens, fazia frio em Andradina antigamente, hoje não mais), comer lanche de pernil altamente suspeito, mas saboroso, um quebra-queixo e algumas cocadas, íamos ver o rodeio com seu som potente que tremia a terra e seus valentes peões que desafiavam touros de mais de uma tonelada. Não havia essa separação de camarotes, havia arquibancada e só.
Terminado o rodeio, era só se posicionar no barranco de grama ou sentar na cerca de madeira em frente ao palco, esperar o Décio Gava, com sua voz potente e inconfundível (lembro o ano que não teve cantor, apenas o sorteio de 10 xxxx,xxxxxx,xxxxxchevetes) anunciar a atração da noite e pronto! Os cantores, sem essa parafernália de luzes, efeitos, telões midiáticos, quando muito uma ou duas bailarinas e voz, garganta pura. Lá vi Sergio Reis, Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, Milionário e José Rico, João Paulo e Daniel, Cristian e Ralf, Gilberto e Gilmar, Placa Luminosa, Polegar e muitos outros.
O mundo não girava mais, não havia mais frio nem cansaço nem fome, apenas a magia de ver, por duas horas, seres humanos capazes de parar o tempo com suas vozes.
Terminado o show, restava a nós, voltarmos para casa, não sem antes comprarmos cocada branca e preta e maçã do amor para levarmos pra casa.
Assim eram os dias de EXPOAN, agitados, mágicos, inesquecíveis. Até hoje me lembro do dia em que houve o show da Ivete Sangalo, em 1995 acho. Nunca antes (e nunca depois) vi tantos ônibus parados enfileirados lá na avenida, certamente uns 100.
Terminada a jornada, só nos restava voltar pra casa, contando com a ajuda muito bem vinda das caronas nas camionetes, cansados, com sono, mas felizes. A vida girava mais devagar, e era bom…