O cenário, de degradação do imóvel se acentuou segundo a reportagem, a partir dos anos 1990, quando o trem deixou de transportar passageiros. Desde então, a estação perdeu boa parte de seu telhado, a plataforma de embarque não tem mais cobertura, o piso afundou, portas e janelas praticamente não existem mais e o que sobrou das paredes tem como característica os buracos existentes nelas. Não é exagero algum classificar o que restou da estação de ruínas.
A vegetação já dominou o local e um cômodo anexo do prédio, localizado na zona rural da cidade de 57 mil habitantes e que ficou conhecida como a “terra do Rei do Gado”. A estação fica no quilômetro 132 da extinta Noroeste do Brasil, que abrigava o Trem da Morte, entre Bauru e Corumbá (MS), e desde o fechamento para passageiros já tinha sido praticamente descartada do mapa ferroviário.
A ferrovia, com 1.272 quilômetros, herdou o nome do Trem da Morte original, entre Puerto Quijarro e Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. A rota boliviana ganhou o nome devido ao número de acidentes, como descarrilamentos, e também por ser no passado utilizada para o transporte de doentes.
Com o tempo, a “extensão” brasileira, já que Corumbá é vizinha a Puerto Quijarro, ganhou a mesma denominação, especialmente a partir dos anos 60, quando houve desaceleração gradual de investimentos na estrada de ferro. O período coincide com o fim da Noroeste do Brasil e sua incorporação pela Rede Ferroviária Federal. Foi administrada pelo governo federal até 1996, quando houve concessão à iniciativa privada.
Das 122 estações erguidas entre Bauru e Corumbá, ao menos 80 foram demolidas ou estão em processo avançado de deterioração, abandonadas ou fechadas, sem uso algum. A maior parte delas está sob responsabilidade do governo federal. A estação de Andradina faz parte do contrato de arrendamento, que hoje está com a concessionária Rumo.
A empresa informou que a condução do imóvel será tratada no processo de relicitação da Malha Oeste, que foi aprovado em dezembro de 2020 pelo conselho do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos). “A relicitação abre caminho para que o poder concedente promova nova licitação, com um novo concessionário assumindo a malha, ou mesmo para que o formato dessa concessão possa ser remodelado pelo governo”, diz a Rumo.
O cenário da estação Planalto é muito diferente do visto em outra estação existente na cidade, que foi restaurada e está bem conservada. O conjunto da estação ferroviária de Andradina foi implantado na variante de Jupiá da Noroeste do Brasil e é responsável pela fundação de fato da cidade, segundo o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo).
O local funciona como centro cultural e passou por reforma completa nos últimos anos. No passado, Andradina era conhecida como “terra do Rei do Gado” e duelava com Ribeirão Preto, que tinha seus barões do café, como polos de riqueza no interior paulista. A disputa virou até mesmo uma clássica música da dupla Tião Carreiro & Pardinho, de 1961.
Inspirada na história da disputa de dois “reis” num bar em Ribeirão, “Rei do Gado” coloca frente a frente o rei do café, de Ribeirão, e o do gado, de Andradina, e narra parte da história econômica das duas cidades. Município desde 1938, Andradina “surgiu” seis anos antes, a partir de Antônio Joaquim de Moura Andrade, então maior criador de gado do país e conhecido como o “rei do gado”.
Em suas terras, 6.000 famílias passaram a morar em lotes. Hoje, a zona rural não chega a 4.000 moradores. E, assim como em Andradina o rebanho bovino não tem o peso de outrora em sua economia, em Ribeirão Preto o café perdeu espaço para a cana-de-açúcar.
FONTE: FOLHA DA REGIÃO