Município de Valparaíso completa aniversário de 84 anos de fundação

Terça, 01 Junho 2021 03:22

Neste domingo, 30 de maio, a cidade de Valparaíso completa 84 anos desde sua fundação. Fundado em 1937, o município está localizado ao lado da Rodovia Marechal Rondon, a 625 Km da capital São Paulo, e carrega consigo uma história de luta e resistência junto a seus moradores.

Situada na região noroeste do Estado, a cidade abrigava grandes fazendas de café, algodão, milho pecuária de corte e leiteira no período em que houve a formação do povoado, que anos depois se desenvolveria como uma cidade. 

Atualmente, Valparaíso tem aproximadamente 22.600 habitantes. As terras que rodeiam o município são conhecidas por serem férteis e boas para o plantio, visto que a região se destaca pela produção de açúcar e álcool, com duas grandes usinas. A cidade também sedia uma fábrica de lisina para ração animal. A praça Oscar de Arruda possui homenagens às colônias Japonesa e Italiana, com pequenos castelos e fontes luminosas, além do coreto com o mapa do Estado de São Paulo. As colônias tiveram uma enorme participação no desenvolvimento das cidades. 

Em comemoração ao aniversário do município, todo mês de maio é marcado por grandes festas culturais e esportivas, que vão desde torneios de futebol, campeonatos de várias modalidades esportivas, festival de danças, bon-odori e a tradicional Festa do Peão de Boiadeiro. No entanto, em decorrência da pandemia do novo coronavírus e da necessidade do distanciamento social, as festividades não estão acontecendo. Como forma de não passar em branco, a Prefeitura, por meio da Secretaria de Cultura, Esportes e Lazer, promoveu uma transmissão on-line ontem (29), nas redes sociais da administração municipal. 

PATRIMÔNIO 

O aposentado Yasunaga Shidomi, 81 anos, é morador de Valparaíso desde 1940. Ele chegou ao município três anos após a fundação, e presenciou todas as mudanças e o desenvolvimento do município como um importante pólo industrial para a região. Shidomi, que foi vereador nos anos de 1983 a 1988 e é um dos representantes da cultura japonesa na cidade, afirma que Valparaíso é uma cidade que possui ótimas terras para a agricultura. 

Segundo ele, essa foi a principal característica que atraiu as colônias italianas e japonesas para a região, visto que a agricultura era a principal atividade econômica naquela época. Yasunaga relata que, por conta de seu pai, não chegou a trabalhar em plantações de café. Ao invés disso, preferiu diversificar com algodão, uma vez que a cultura do café tinha dado grande prejuízo à família. 

“Valparaiso era um lugar de muito café. Mas eu não trabalhei com café, mas sim em Algodão, por causa que meu pai parou de trabalhar no café e então eu plantei algodão por 40 anos”, explica o aposentado. O senhor conta que seu pai veio para a região no ano de 1928, com o pai e a irmã. 

De acordo com Shidomi, sua família morava no município de Bento de Abriu na década de 1930, e antes de migrarem à Valparaíso, estiveram em Lavínia, trabalhando com a formação de plantações de café. “Nós éramos em sete irmãos, e todos abandonaram a plantação para estudar. Assim, eu acabei sendo o único que continuou trabalhando nesse meio”, reitera Yasunaga. 

COLÔNIA 

O agricultor diz que a colônia japonesa do município já chegou a ter mais de 1.000 famílias. No entanto, esse ajuntamento foi enfraquecendo com o passar dos anos, e atualmente são apenas 80 associados, sendo que nenhum deles é jovem. Shidomi conta que o Cônsul do Japão esteve em Valparaíso entre os anos de 1968 e 1970, e orientou para que os filhos dos japoneses fossem estudar e investissem em uma carreira intelectual, pois ganhar dinheiro com a agricultura no Brasil era muito difícil, e com o estudo eles poderiam sair desta atividade. 

“E foi assim que essa cultura foi acabando, pois os jovem se formam e acabam indo embora para trabalhar em uma cidade maior, e nós ficamos aqui e continuamos fazendo aquilo que sempre fizemos”, relata o aposentado. Ele expôs também que a colônia tenta segurar as pessoas que ainda participam, fazendo diversas atividades, pois o Cônsul do Japão pede para que não deixem a cultura nipônica ser extinta. 

Com isso, o grupo promove festas, vendem salgadinhos e se mobilizam entre eles para arrecadar dinheiro para que as atividades possam ser realizadas. A pandemia atrapalhou o planejamento deles, tanto para 2020 quanto para 2021. “Nós tentamos segurar fazendo festas, mas por conta da pandemia não podemos realizar as atividades, então só restou a mensalidade”, narra Yasunaga. 

TRADIÇÃO 

O Bon Odori, festival japonês que acontece sempre no verão, entre julho e agosto, também é uma tradição de Valparaíso, sendo ela uma das comemorações do aniversário da cidade. “O bon significa ‘finado’ em japonês, e odori é ‘dança’. Entã,o Bon Odori é dança de finado. A festa é para alegrar o espírito dos japoneses que já partiram, pois a crença afirma que o corpo se foi, mas o espírito não”, explica o aposentado. Ele diz que o Bon Odori é um momento de muita alegria e descontração para a cidade e os moradores, além de ser uma oportunidade de reencontrar os amigos.  

Yasunaga conta que, na sua visão, a festa serve para celebrar o passado com os amigos que não se vê há anos, e o reencontro promove a integração. Yasunaga salienta que a mobilização em torno do evento é grande, e chama a atenção de outras colônias japonesas, vindas de outras cidades. “Nós pertencemos ao Noroeste do estado, que é de Bauru (SP) até Três lagoas (MS). Mas ele é muito grande, então nós só convidamos pessoas de Birigui até Três lagoas, pois é muito distante para irmos até lá devolver o favor. São mais ou menos umas 15 cidades”, relata o agricultor. 

Para Yasunaga, imitar o Japão é muito difícil, mas que Araçatuba se destaca nesse quesito, pois a cidade possui diversas escolas japonesas, de música e dança típica. “As outras cidades não conseguem, pois para gerir um projeto assim é preciso de uma arrecadação maior, a qual Valparaíso não comporta”, menciona Shidomi. De acordo com ele, caso Valparaíso tivesse alunos, o governo do Japão mandaria um professor para ensinar a língua e ele mesmo poderia arcaria com todas as despesas desse profissional.  

O festival não é a única celebração que o município promove. De acordo com Yasunaga, o desfile cívico era outra mobilização local que reunia todas as colônias e demais grupos da cidade. O aposentado reitera que o município tem condições de melhorar, pois, com o surgimento das usinas de cana de açúcar na cidade, a arrecadação melhorou, além da maior possibilidade na geração de empregos.

(Colaborou Antonio Augusto, estudante de jornalismo). 

 

FOLHA DA REGIÃO 

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