Os reeducandos e visitantes tiveram a oportunidade de ver grupo de canto e coral Fênix; a peça teatral “O enfermeiro”; um sarau com poesias de Jaime Queiroga; apresentação da orquestra Salada Mista – da Prefeitura de São Caetano do Sul – e grupo de teatro da comunidade de Guarulhos, com a peça “Vanja Bonita do Cangaço Brasileiro”.
A programação deste ano – estabelecida da Coordenadoria de Unidades Prisionais da Região Metropolitana de São Paulo (Coremetro) proporcionou uma mostra do poder de reintegração e cidadania nos reclusos da unidade prisional. Durante todo o dia, foram processados 2.100 atendimentos, incluindo exames de saúde, emissão de documentos, orientação jurídica, palestras e eventos culturais.
Segundo o coordenador da Coremetro, Antonio José de Almeida, em 2017 a Jornada de Cidadania já percorreu 10 unidades prisionais da região metropolitana, com um total de 18.543 atendimentos. Para ele, isso mostra que o afinco por parte dos estabelecimentos penais, em conjunto com as instituições civis, resulta em ações de resgate do indivíduo preso, para uma vida melhor em sociedade e oportunidade para mudar de foco, que não deve ser desperdiçada.
Almeida disse que a confiança depositada nos sentenciados gera novas benefícios a todos os reeducandos. Ele incentivou todos a tirarem o máximo proveito da programação do dia. “Cabe a vocês levarem para toda população carcerária a importância de uma Jornada de Cidadania”, destacou.
Para o diretor do Marrey, Samuel de Oliveira Filho, cada passo é de grande ajuda para os sentenciados no sentido de prepará-los para a vida fora do cárcere. “Temos o sentimento que estamos ajudando, de certa forma, para que o preso não encontre problemas quando chegar sua liberdade. Fica a satisfação de ter feito a coisa certa”, disse.
Quebrando barreiras
O grupo de teatro “Do Lado de Cá”, formado por sentenciados da unidade, apresentou a peça “O enfermeiro”, de autoria do Agente de Segurança Penitenciária (ASP) Domingos Dudlei Menetti e teve seção concorrida durante a Jornada. Desde 2010 a unidade prisional promove apresentações teatrais, já tendo computado a participação de cerca de 350 sentenciados no projeto.
Segundo o coordenador do grupo teatral, o ASP Igor Rocha, as ações culturais desenvolvidas na unidade contribuem para a ressocialização dos sentenciados. A base para essa afirmação vem do acompanhamento, processado de forma individualizada com os reeducandos que já fizeram parte do projeto da unidade, mas que agora estão em liberdade. De acordo com Rocha, dos 350 participantes, apenas dois ou três voltaram à criminalidade; já os demais levam uma vida honesta fora do crime.
Durante a apresentação da última montagem do grupo, o público não economizou em risos. Menetti disse que apostou na comédia, porque é bonito ver a alegria nas pessoas, mesmo estando em uma unidade prisional. “Para mim, como ASP, fazer um trabalho cultural além da função de segurança é, sem dúvida, quebrar barreiras e também um privilégio”, destacou Menetti. Ele acredita que haja muitos outros servidores no sistema prisional dispostos a tocar projetos de arte. Em sua opinião, se todos tivessem a possibilidade de fazer um trabalho semelhante, talvez fosse mais fácil lidar com os problemas comuns das unidades prisionais.
Para os presos que atuaram na peça “O enfermeiro” o que se viu foi satisfação pelo trabalho bem feito. Caio, no papel do menino Jeosafá, disse que o trabalho desenvolvido no Marrey dá oportunidade a todos, de deixar de lado o cotidiano da cadeia, algo que, na sua opinião, é estressante.
Para João – que fez o papel de dona Tenória, mãe de Jeosafá – a peça lhe deu oportunidade de lidar com o tema ‘preconceito’, mas de uma forma alegre. “Sei que errei e estou pagando pelos meus atos, mas foi aqui que tive a oportunidade de também crescer e abrir minha mente”, reconheceu. “Não temos um problema maior do que possamos aguentar”.
fonte: SAP