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Morador de Murutinga do Sul é considerado foragido pela Polícia Federal de Jales devido fraudes

Quinta, 05 Setembro 2019 04:16

Um morador de Murutinga do Sul, na região de Araçatuba, é considerado foragido na Operação Vagatomia, deflagrada ontem (03), pela Polícia Federal em Jales, que investiga um grande esquema de fraudes na concessão do Fies (Financiamento Estudantil do Governo Federal) e na comercialização de vagas e transferências de alunos do exterior (principalmente Paraguai e Bolívia) para o curso de medicina em Fernandópolis.

Bolsas do Prouni e fraudes relacionadas a cursos de complementação do exame Revalida também estão sob investigação da PF. O suspeito foragido já havia sido preso durante a Operação Asclépio, em abril deste ano, que investigava a comercialização de vagas em vestibulares.

Aproximadamente 250 policiais federais cumpriram 77 mandados judiciais expedidos pela Justiça Federal de Jales nas cidades paulistas de Fernandópolis, São Paulo, São José do Rio Preto, Santos, Presidente Prudente, São Bernardo do Campo, Porto Feliz, Meridiano, Murutinga do Sul, São João das Duas Pontes e Água Boa no Mato Grosso. Entre os mandados judiciais expedidos estavam 11 prisões preventivas, 11 prisões temporárias, 45 ordens de busca e apreensão e 10 medidas cautelares (alternativas à prisão). A Justiça Federal também determinou o bloqueio de bens e valores dos investigados até o valor de R$ 250 milhões. Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Federal, alguns investigados tentaram fugir no momento das prisões. Outros jogaram seus celulares de prédios antes da entrada dos policiais, mas os aparelhos foram recuperados e os foragidos localizados e presos.

No início do ano, a PF recebeu informações que relatavam crimes e irregularidades que estariam ocorrendo no campus de um curso de medicina em Fernandópolis. Vagas para ingresso, transferência e financiamentos Fies para o curso de medicina estariam sendo negociados por até R$ 120 mil por aluno.

Durante oito meses de investigações, a PF apurou as informações recebidas e concluiu que o líder da organização criminosa é o próprio dono da universidade, que também ocupa o cargo de reitor. O empresário e engenheio José Fernando Pinto Costa, de 63 anos, e seu filho, que também é sócio do grupo educacional, não só tinham conhecimento, mas também participavam dos crimes em investigação. Uma estrutura formada por funcionários e pessoas ligadas à universidade dava condições para que as fraudes fossem realizadas.

“Assessorias educacionais”, com o apoio dos donos e toda a estrutura administrativa da universidade teriam negociado centenas de vagas para alunos (muitos deles já identificados) que aceitaram pagar pelas fraudes a fim de serem matriculados no curso de medicina, segundo a PF.

Entre estes alunos, que compraram suas vagas e financiamentos, existem filhos de fazendeiros, servidores públicos, políticos, empresários e amigos dos donos da universidade, todos com alto poder aquisitivo, que mesmo sem perfil de beneficiário do Fies, mediante fraude, tiveram acesso aos recursos do Governo Federal. Com a sistemática atual de inclusão de dados e aprovação do Fies pelas próprias universidades privadas (beneficiárias dos recursos que aprovam) a PF estima que milhares de alunos carentes por todo o Brasil podem ter sido prejudicados em razão destas fraudes.

Com o incremento desordenado de alunos de medicina no campus em Fernandópolis, a qualidade dos estudos foi prejudicada e alunos que ingressaram de forma regular procuraram o MPF para denunciar as fraudes. No decorrer das investigações, a PF identificou ameaças proferidas pelo dono da universidade aos alunos que fizeram as denúncias, além de tentativas de influenciar e intimidar autoridades, destruição e ocultação de provas, dentre outras ilegalidades.

De acordo com as investigações, os empresários estariam investindo os recursos obtidos com as fraudes em imóveis urbanos e rurais no Brasil e no exterior, além da compra de aeronaves (helicóptero, jatinho e avião) e dezenas de veículos de luxo, que foram bloqueados, ontem.

Pai e filho tiveram suas prisões decretadas, assim como alguns diretores e funcionários das unidades onde as fraudes foram identificadas (São Paulo, São José do Rio Preto e Fernandópolis). Integrantes das “assessorias”, que vendiam vagas no curso de medicina, financiamentos Fies e Prouni, além de fraudes em cursos relacionados ao Exame Revalida também estão entre os presos.

Os alunos e pais, que aceitaram pagar pela vaga e/ou financiamentos públicos, também responderão pelos crimes em investigação na medida de suas culpabilidades. Nova investigação será iniciada imediatamente pela PF objetivando identificar todos os pais e alunos que concordaram em pagar pelas fraudes praticadas pela organização criminosa e, portanto, também praticaram crimes.

O nome da operação Vagatomia foi utilizado em alusão ao termo “tomia” que significa “corte”, comumente utilizado em palavras que denominam procedimentos cirúrgicos. Como os investigados reduziam as vagas do curso de medicina e Fies, na medida em que as vendiam, candidatos que teriam direito ao financiamento do Governo Federal sofriam com o corte das vagas disponíveis.

Nesta operação, ele é acusado de crimes como participação em organização criminosa, falsidade ideológica, inserção de dados falsos em sistemas de informações e estelionato majorado.

Um balanço divulgado no início da noite de ontem, informou que no total, 19 pessoas foram presas, 3 estão foragidas (incluindo o morador de Murutinga). Em um dos mandados de prisão, em São João das duas Pontes, o preso tentou fugir e se esconder em um telhado, mas foi capturado logo em seguida pelos federais.

Já as apreensões contabilizaram um simulacro de arma de fogo; dólares, reais e euros (o valor ainda não foi revelado), celulares, laptops, mídias de armazenagem de dados, e muitos documentos que serão analisados em conjunto com perícias nos equipamentos eletrônicos apreendidos; além de veículos, aeronaves e embarcações e valores em contas foram bloqueados de acordo com a ordem da Justiça Federal de Jales.

A Operação também contou com algumas peculiaridades. Durante o cumprimento de um mandado em São José do Rio Preto, um casal foi preso, mas antes dos federais conseguirem acessar o imóvel onde os presos residiam, eles jogaram dois celulares e um laptop do oitavo andar, mas os equipamentos foram recuperados e passarão por perícia para extração de todos os dados. Em outro endereço em Rio Preto, relacionado a um empresário preso, foi localizada um documento com o título “Como lavar dinheiro”.

Um empresário, também de São José do Rio Preto, dono de empresas que prestam cursos relacionados ao Revalida foi preso em São Paulo em um hotel de luxo.

Todo o material apreendido foi encaminhado para a PF em Jales para a realização de análise no interesse das investigações em curso. Os presos foram indiciados pelos crimes de organização criminosa, falsidade ideológica, inserção de dados falsos em sistemas de informações e estelionato majorado, cujas penas somadas podem chegar a 30 anos de reclusão. Todos os presos foram encaminhados para cadeias da região onde foram presos após audiência de custódia.

 

fonte: Folha da Região