Conversamos com Choiti Miguita, de 91 anos, que chegou em Mirandópolis por volta de 1940. Morou muitos anos na roça, onde plantou café e depois teve uma granja, até que decidiu lotear, local que se transforou no bairro Miguita. Confira abaixo a entrevista completa.
Onde o senhor nasceu?
Nasci em 1930 na Mogiana, pertencente à cidade de Serra Azul, próximo de Ribeirão Preto. Não lembro muito de lá, pois fiquei até os quatro anos, foi quando vim para Guararapes. Meu pai trabalhava com agricultura e viemos todos (4 irmãos e 5 irmãs). Ficamos por uns quatro anos, foi quando meu pai se mudou para Monte Serrat. Naquela época ainda era tudo mato, quando nós saímos que começou a abrir e nós fomos para a fazenda que era do Geraldo Delai.
E a escola nessa época?
Quando vim de Monte Serrat tinha 8 anos. Passou o ano e meu pai falou “você vai estudar um pouco, senão não vai saber ler e nem escrever, aí não dá!”. Então ele me trouxe para a cidade, eu ficava na casa de um conhecido para ir para a escola. Não tinha transporte, tinha que andar 20 quilômetros a pé para chegar, levava quase metade do dia, então ficava lá. Fiquei dois anos estudando, até que meu pai disse que eu tinha que trabalhar e fui ajudar na roça.
Trabalhou muitos anos no campo?
Sim, derrubamos o mato, plantamos café. Em 1958 começamos a fazer muda de café porque tinha muito cafezal e já vendia para replantar. Vendi por 4 anos, depois parei porque pensei que não ia dar certo. Depois comecei a granja nos 60. Fui aprender sobre granja no Yuba, até então não sabia como cuidar dos pintinhos, aí um dia o pessoal me chamou para conhecer a granja deles. Deu trabalho, mas foi bom, só não tem descanso (risos).
Até quando ficou com a granja?
Final de 1963, foi quando decidi lotear a propriedade. Fui vendendo os lotes, na época tinha que registrar o nome e escolhemos Miguita.
Quais lembranças mais antigas?
Durante o período da guerra não podíamos falar em japonês na rua e nem juntar mais de três japoneses. Também lembro da geada que queimou tudo. Naquela geada eu fui para o Paraná e o cafezal tava tudo seco, uma tristeza só!
Lembra da explosão do trem?
Não lembro exatamente da explosão do trem, mas recordo de ajudar a cobrir muitas casas que destelharam, acho que foi em 1946. Tenho essa lembrança, foi um período de tristeza porque assustou muita gente.
Qual a receita para ter saúde?
Tem que ter uma boa alimentação, a comida japonesa é muito regrada, quase nada industrializado. Os japoneses costumam fazer coisas que duram bastante tempo, a gente come bastante verdura também. A massa de tomate por muitos anos foi feita em casa, e até hoje faço caminhada. Também continuo dirigindo, minha habilitação vai até 2025 (risos).
Pensou em sair de Mirandópolis? Na verdade, não era pra eu ficar aqui, a minha vontade era ir para o Paraná, a terra lá é boa para plantar café. Na época falei para o meu pai, que já conhecia a terra vermelha, e ele disse: “não, terra roxa eu não quero nem saber” então como ele não queria ir e nem meus irmãos, eu também não fui. Acabei ficando e não me arrependi porque meus irmãos foram todos criados aqui.