Nessa época era tudo diferente e eles pensavam diferente. Manoel de Matos chegou a fundar o grupo dos filósofos locais que discutiam de tudo enquanto do outro lado da cidade José Gardin era mais firme e criava estratégias de guerra para se vencer períodos eleitorais.
As famílias participavam de comícios e o tiozinho com um tabuleiro de isopor vendia um pirulito “Puxa” feito com açúcar queimado e enrolado em papel de seda. Era um tabuleiro todo colorido. Meu Deus! Dava um trabalho danado separar o pirulito do papel de seda. Maçã do Amor também era vendida. E a bebida mais pedida nos botecos era o Fogo Paulista.
O alto número de cartazes e faixas mostravam, ou não, se o candidato tinha grandes chances de vencer e o barulho de uma matraca girando denunciava que alguém estava vendendo Biju.
Os cabos eleitorais se acotovelavam embaixo enquanto os candidatos disputavam cada centímetro do palanque para ver quem ficaria ao lado dos candidatos a prefeito e vice.
De vez enquanto alguém lembrava: “Precisamos ganhar as prendas pra festa de São Cosme e Damião!”
Enquanto isso, outros, no meio do povo eram encarregados de comentar: “Viu como no nosso comício tem mais gente que no do fulano?!
”
Eram pessoas do próprio partido que tinham a missão de espalhar esses boatos e também de leva-lo a todos os bares no dia seguinte.
“Será que nosso time consegue o uniforme inteiro ou só as camisas?” essa era a pergunta campeã em todos os comícios.
Os bairros se preparavam o dia inteiro para os comícios! As ruas eram fechadas a tarde e o som começava a ser testado antes das 18 horas para a alegria de todos.
“Na hora de votar na boca da urninha! Vote no Gordurinha” cantava Aldo Galesco.
“Vote, vote, vote, vote, vote certo para vereador vote em seu Alberto. Ele é gente nossa ele é gente fina. Por isso ele mudou de São Paulo para Andradina.” cantava os peemedebistas que em seguida clamavam: “O Sol nasceu pra todos e também para você. Vote Quércia PMDB!”
Quem iria muito bonito aos comícios passava na Dona Eulália para uma benzidina que era para evitar o quebranto.
“São Paulo é Paulo porque Paulo é trabalhador. São Paulo é Paulo é Maluf sim senhor.” Com um coração de papel na mão corriam as crianças a cantar o hino dos malufistas.
Os carros de som avisavam nos bairros a hora de saída e chegada para os ônibus que iriam levar a todos ao comício.
Nos comitês, que eram o QGs de Zé Gardin e Manoel de Matos ferviam as ideias e conselhos que eram repassados a cabos eleitorais e candidatos a vereadores.
Uma dessas ideias rendeu um belo soco.
Conta se que um candidato perguntou aos advogados que estavam por perto qual a palavra certa para elogiar o Dr. Orensy.
De pronto lhe falaram: “Corrupto. Chama ele de corrupto que ele lhe será grato para sempre” brincou um advogado que achou que não passaria dali
.
A noite o candidato a vereador disparou, num comício na Vila Botega: “Olha Dr. Orensy pode haver outro igual, mas, mais corrupto que o senhor nunca haverá!”.
Orensy deu dois passos na direção do candidato que ainda ria,e, de la de cima do palanque deu lhe um soco no meio da cara.
Ninguém entendeu nada! Menos ainda o elogioso amigo.
Bem, o fato se perpetuou na cidade. Como ambos já foram para o “andar de cima” acredito que isso já deva ter sido conversado.
Orensy Rodrigues da Silva chegava mais cedo nos comícios, com sua calça e camisa jeans, calça por dentro da bota, chapéu viçoso(e caro) e um bigode inconfundível .
Levava no ombro a bandeira do PTB e quando chegava nos bares perguntava para o dono: Quanto de cerveja você tem no freezer? É tudo meu! “
Depois de pagar ao dono do buteco liberava a bebida para todos! Nas sorveterias da localidade ele também fazia assim!
Na época havia uma guerra danada entre Oresny e Jorge Maluly Neto!
Os correligionários de Miguel Cury sabiam que com ele era diferente. Miguel chamava todos a sua casa para conversar, com ele, amigos tinham que ser recebidos na sua cozinha!
Alguém sempre perguntava na Paes Leme: “Você sabe onde tem comício hoje?”.
Nunca se imaginou que os tempos trariam o fim de uma diversão que os andradinenses esperavam cada 2 anos para acontecer. E pior, muito daquilo hoje é ilegal.
Mato Grosso e Matias, Rick e Rener e muitos outros nomes já cantaram e tocaram em comícios em Andradina.
Os pontos dos maiores comícios em Andradina: Paes Leme com a Rio Grande do Sul, Praça João Leite, Praça Municipal. Guararapes com a Iguaçu, Enxada da Botega. Presidente Vargas com a Iguaçu, Alexandre Salomão com 7 de setembro ... e por ai vai.
Foram outros tempos! Foram outros homens!
A noite sempre era estrelada e as bandeirinhas cortando as ruas, como nas festas de São João, acompanhavam a alegria dos que por lá compareciam!
Sorrisos sinceros e conversas apaixonantes eram servidas a todos.
As crianças corriam com os seus cabelos molhados, o que alertava para o fato de que os banhos foram tomados há pouco. A “Água de cheiro”, colônias da Avon e Cristian Gray eram as mais usadas e o Almiscar era para poucos.
As mulheres exageravam no pó compacto e os homens no Trim. O pente Flamengo sempre estava no bolso para qualquer reparo.
As crianças usavam a roupa de ir a missa e o tecido era a melhor Chita vendida na Paes Leme. A Conga ou o Kichute sempre estavam no pé... .
“Canções usavam formas simples pra falar de amor. Carrões e gente numa festa de sorriso e cor. O que foi felicidade me mata agora de saudades.
Velhos tempos! Belos dias!”