Caso Bet Gain: Em Mirandópolis Jessica de Souza revela detalhes inéditos sobre o desaparecimento de Jeferson Ogliari

Quarta, 17 Julho 2024 09:46

Caso Bet Gain: Jessica de Souza revela detalhes inéditos sobre o desaparecimento de Jeferson Ogliari

Confira na sequência a entrevista que ocorreu via chamada de vídeo para garantir que Jessica estaria respondendo.

Onde você conheceu o Jeferson?

Conheci em abril de 2023 enquanto ele trabalhava no Circo Los Hermanos! Eu fui no circo aqui em Mirandópolis e ele estava na portaria pegando os ingressos. Naquele momento tive um primeiro contato e começamos a conversar via Instagram. O circo foi para Osvaldo Cruz e eu comecei a ir até lá para ficar com o Jeferson. Passado algumas semanas o circo ia embora para outra cidade, com isso conversamos, já que eu morava sozinha, e combinamos que ele ficaria na minha casa e procuraria um emprego em Mirandópolis, com isso ele não precisaria ficar viajando com o circo.

Desde que você conheceu o Jeferson, ele falava sobre apostas esportivas?

Sim, desde que conheci trabalhando no circo, ele já comentava sobre o mercado de apostas esportivas. Eu já trabalhava como trader da bolsa de valores, e até foi uma coisa que aproximou a gente. Ele me mostrava os bilhetes (jogos/apostas) que fazia e os resultados, então foi algo que até nos aproximou por eu trabalhar como trader.

Você via ele estudando no dia a dia para realizar as apostas?

Estudando não, mas ele tinha muita inteligência para este mercado de aposta esportiva. Ele tinha conhecimento de campeonato japonês, entre outros países. Ele conhecia muitos times e jogadores, isso realmente me impressionava. No inicio eu fiz um empréstimo de R$ 20 mil para a gente montar um escritório em cima da Caixa Econômica Federal, aproximadamente em junho de 2023. Os valores de apostas inicialmente eram baixos, de dois, três, quatro mil reais, algo mais interno com alguns conhecidos, algo que envolvia umas seis pessoas. Depois a gente teve um desentendimento, ficamos um mês e meio afastado, depois reatamos e dai começou a aumentar o capital das apostas. Mas no começo era saudável, dava pra pagar todos e ainda sobrava dinheiro.

Jeferson dizia que grande parte das apostas aconteciam em jogos da NBA. Foto: Instagram @bet_gain_sports

Você acompanhava as finanças de perto?

Sim, enquanto os relatórios eram manuais, feito via WhatsApp, eu tinha conhecimento de tudo. De quanto cada um tinha de banca, das apostas e os pagamentos. Antes até eu ganhava uma comissão das apostas.

Você conheceu a família dele no Rio Grande do Sul?

Conheci esse ano, antes não conhecia ninguém. Inicialmente ele falou que era do Rio Grande do Sul, que tinha dois filhos e a mãe morreu quando ele tinha quatro anos. Tinha dois irmãos, o pai e a madrasta. 

Quando você passou a desconfiar do Jeferson?

Na verdade, a primeira coisa estranha foi quando fomos visitar a família dele no Rio Grande do Sul. Eu reparei que ele não falava pra família com o que ele trabalhava. Por exemplo, nós chegamos lá com uma caminhonete e moto, daí a família perguntava e ele falava que tinha um escritório em São Paulo e mudava de assunto. O Jeferson não falava que era de apostas esportivas. Quando voltamos de viagem, por eu achar estranho essa história, eu fiz contato com a Bruna, ex-mulher dele, para tentar descobrir algo. Ela disse que o Jeferson nunca fez nada de errado, sendo que separou dele por um erro dela (Bruna), mas não entrou em outros detalhes. E falou que depois disso o Jeferson ficou mexido com a separação, pegou um dinheiro com o pai dele e saiu do Rio Grande do Sul. Ela até comentou que ele devia algo lá, foi quando eu cheguei até a ter acesso ao WhatsApp do Jeferson, e descobri que ele devia para o banco por conta de um cartão de crédito, devia um cara por causa de uma moto, cerca de R$ 80 mil. Mas eu lembro que quando estava entrando um dinheiro (com a Bet Gain) ele entrou em contato com algumas dessas pessoas e foi quitando algumas dividas. E depois eu falei também com a Lourdes, tia dele lá do Rio Grande do Sul. Eu expliquei tudo que fazíamos aqui e ela só me disse – “Pede para ele parar com isso porque não é vida, depois falo com você.”

Jessica trabalha como trader da bolsa de valores. Foto: Instagram @jessihca_sousa

Então ele já fez isso lá no Rio Grande do Sul?

Sim, ele já fez isso no Rio Grande do Sul. Mas eu só descobri agora, pois a Bruna (ex-mulher) me contou algumas coisas recentemente. Ela disse que não quis contar antes porque eu poderia pensar que ela estaria querendo estragar o nosso relacionamento. Ela disse que já aconteceu algo parecido em Santa Cruz-RS, por isso que ele saiu de lá, então é a segunda vez que ele faz isso (fugir com o dinheiro).

Mas essas pessoas lesadas ou a justiça nunca fizera contato com ele?

Pelo que eu sei, não (nunca fizeram contato)! Pelo que a Bruna me contou, quem ameaçava eles eram pessoas “pesadas” que não faziam boletim de ocorrência. Foi com esse tipo de dinheiro que ele fugiu do Rio Grande do Sul. Eu cheguei a pesquisar os problemas que ele tinha na justiça, o que encontrei foi causa trabalhista e um problema com uma ex-namorada.

Quando você passou a desconfiar das atitudes dele?

Tudo começou no rodeio, porque a exposição dele na festa foi anormal, sem necessidade alguma. Eu cobrava o Jeferson sobre isso e ele pedia para não me meter no trabalho dele, que era marketing. Na sexta-feira (21/6) ele estava esbanjando, subindo no palco, dando dinheiro para quem parasse no boi. Ele estava andando com segurança! No sábado (22/6) discutimos, com isso nem fui no rodeio. No domingo (23/6) o pessoal encheu o saco e acabei indo. Na segunda-feira (24/6) foi feriado, ele acordou tarde, demorando para atualizar a porcentagem de rendimento dos clientes. Eu acordei com gente me ligando querendo saber o valor. Daí ele acordou, levantou e colocou 8% no sistema e voltou a dormir. Eu fiquei pensando, se ele foi no rodeio três dias, não ficou no escritório e não fez cálculo, como ele coloca 8% e volta a dormir? Ali já fiquei encucada novamente. Na segunda-feira fiz pouco pagamento e ele falou que as pessoas precisariam entender que era feriado. Na terça-feira (25/6) fiz alguns pagamentos e ficaram outros para quarta-feira (26/6). Nesta quarta ele disse que iria no banco com a Fran (amiga que emprestava uma conta bancária) para me mandar dinheiro. Na quarta-feira a noite eu fui atrás da Fran, falei que estava achando estranho e ela disse que não queria se meter, mas que estava achando estranho também porque recebeu um e-mail onde falava que sacaram R$ 40,500 na segunda-feira, dia 17. Nesse momento eu pedi para a Fran ir no banco ver o saldo da conta, mas na quinta-feira (27/6) ela não foi. Na sexta-feira (28/6) eu sai de casa sem falar nada para o Jeferson e fui novamente atrás da Fran. Liguei pra ela e não me atendia, fui até a casa da mãe dela. Chegando lá coloquei ela no carro e fomos no banco, pegamos o extrato dos últimos quatro meses. Daí eu vi que nunca passou de R$ 900 mil na conta, tinha dias com R$ 11 mil e no outro R$ 200 mil, depois subia para R$ 800 mil. O que reparei também é que o dinheiro ia para a Betano (casa de aposta) e não voltava para conta. Daí fizemos uma cópia dos extratos, deixei com ela porque tinha medo dele rasgar, e fui no escritório falar com o Jeferson. Chegando lá mostrei os extratos, eram 94 folhas, e pedi para ele abrir o jogo. Ele disse que não estava acontecendo nada! Dai ele ficou de cabeça baixa olhando os papeis e me questionou falando que eu não confiava nele. Eu disse que realmente não, pois ele não me contava as coisas. Dai ele disse que tinha outras quatro contas, e me questionou: você lembra quanto saiu de pagamentos na semana passada? E realmente saiu muito dinheiro!

Você pode falar quantos?

Pagamos mais de R$ 1 milhão na semana inteira, teve um cara que sacou mais de R$ 100 mil, isso uma única pessoa. Nisso o Jeferson me questionou novamente, então como você acha que fiz esses pagamentos? Querendo mostrar que não usava só a conta da Fran, que tinha outras. Eu questionei de quem eram as contas e ele não quis falar. Nisso eu questionei o valor que tinha no cofre, onde guardávamos o dinheiro em espécie, pois ele falava que se tivéssemos um problema no banco, pagaríamos em espécie. Ao abrir o cofre tinha R$ 25 mil.

E quanto chegaram a ter de dinheiro no cofre?

Antes de ir para o Rio Grande do Sul tínhamos quase R$ 500 mil.

E qual foi a explicação dele sobre a falta de dinheiro no cofre?

Ele disse que pagou os clientes e que o fulano levou R$ 30 mil. Mas não saia tanto dinheiro em espécie, fiquei preocupada. Mas a questão dele ter pago de outras contas, de certa forma me fez pensar que talvez seria possível. Nisso ele me pediu para ir no banco com ele depositar aqueles R$ 25 mil, pois tinha um cliente que precisava pagar. Fomos no Santander, eu fiquei no carro. Na sexta-feira (28) fomos em um aniversário, dormimos por volta das 2h da madrugada. No sábado (29) eu acordei, por volta das 9h30, olhei na câmera e o Jeferson não estava no escritório. Levantei, mandei mensagem perguntando onde ele estava, isso foi 9h47, dai ele disse que estava na academia e que depois iria na rua resolver umas coisas. Logo depois disso, coisa de 10 minutos, uma pessoa chegou em casa para me dar o recibo da caminhonete para resolver uma pendência no cartório. Nisso chegou uma outra pessoa pedindo a moto porque o Jeferson já tinha negociado com ele. Essa pessoa estava falando com o Jeferson na minha frente, não lembro se era ligação ou mensagem/áudio, e até perguntou pra ele se poderia fazer o PIX na segunda-feira. Não desconfiei de nada nessa hora! Depois disso eu fui conversar com o meu ex-cunhado, desabafando porque confio bastante nele. Dai ele me disse que estava falando com o Jeferson porque iria precisar fazer um saque alto na segunda-feira seguinte, e como era muito dinheiro, já estava avisando antes. Dai o meu ex-cunhado me encaminhou a resposta do Jeferson, foi quando estranhei porque estava um barulho de vento, bem forte, como se estivesse dirigindo na pista (estrada). Daí desconfiei mesmo, porque pra outra pessoa ele disse que estava em Araçatuba, mas para mim disse que estava na academia, a história não estava batendo. Nisso fui olhar no closet (armário) para ver se tinha algo de diferente, se ele pegou algo, daí percebi que a mala grande não estava lá.

Jeferson no escritório em Mirandópolis. Foto: Instagram @bet_gain_sports

A Bet Gain está em seu nome?

Sim, o CNPJ está no meu nome e uma conta bancária.

Você sabe quantos clientes tinham na Bet Gain?

Entrei em contato com o programador que fez o sistema, ele me disse que tinha cerca de 400 clientes.

Qual foi o valor que o Jeferson pode ter levado?

As pessoas fazem contas em cima dos valores do sistema, mas na questão de depósitos, eu acredito que de R$ 5 milhões a R$ 8 milhões. Agora, o que foi juntando e fazendo juros no site, ultrapassa os R$ 20 milhões. Hoje imagino que ele não está mais no Brasil!

Você está em Mirandópolis neste momento?

Não estou, mas na terça-feira (2) estive em Mirandópolis para ver meus filhos e resolver algumas pendências. Mas no momento nem quero falar onde estou, mas não é que tenho medo das pessoas, mas depois disso tudo ficou uma situação muito chata, pois as pessoas vão apontar e julgar. Eu trabalho com internet, então pretendo estabelecer em outra cidade e continuar trabalhando como trader. Não estou fugindo de ninguém, posso tirar duvidas, mas só vou responder quem vir com educação. Então, vou correr atrás do meu sonho porque a minha vida não acabou, tenho apenas 24 anos.

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