Retomada da fábrica de fertilizantes de Três Lagoas é adiada novamente

Sexta, 19 Mai 2023 09:10

Obra emblemática de Mato Grosso do Sul, que pode reduzir a importação de fertilizantes do País, a Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN3) continua sem previsão para retomada. A última expectativa era de que até abril a Petrobras anunciasse o que faria com a obra, paralisada desde 2014.

Durante agenda em Campo Grande, ontem, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, adiantou que a resposta sobre a conclusão da UFN3 ficará para o segundo semestre, mas que, para isso, a Petrobras precisará de uma mudança no plano nacional para não entregar a fábrica para a iniciativa privada.

“Eu cansei de ir lá, fui eu que interrompi a última licitação, porque não constava no edital que a fábrica tinha que terminar como fábrica de fertilizantes. Ela [a empresa russa Acron] poderia desmontar e mandar todos os equipamentos para a Rússia”, comentou Simone.

Ex-parceira de Senado do atual presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, Simone citou que o então mandatário passa por um período de quarentena por seu envolvimento direto com a iniciativa privada desse setor. “E, salvo engano, só termina agora no fim de maio. Ficou combinado o pedido de uma agenda em junho para falar sobre a questão de gás no Brasil”, expôs a ministra sobre a situação.

Ela ainda informou que o plano nacional da Petrobras para este ano impediria o investimento em gás, e, se for da vontade da Petrobras terminar a obra, o conselho administrativo precisaria mudar essas diretrizes para retomar o investimento.

“Ou entender que ela não quer mais e, portanto, teria de licitar e entregar para a iniciativa privada, para que pudesse concluir. Essa é uma questão que só vai ficar mais clara no segundo semestre”, disse.
Conforme reportagem publicada pelo Correio do Estado no dia 26 de janeiro, é de interesse do governo do Estado e do próprio governo federal que a Petrobras assuma a conclusão da planta.

“Estamos crendo e é um desejo nosso que a Petrobras assuma a obra para concluir a UFN3 e depois decida se vai vender ou operar o ativo. O mais importante para o Estado é que a fábrica seja concluída e opere, para gerar produção de fertilizantes e empregos. O indicativo da Petrobras hoje é que eles vão concluir”, afirmou na ocasião o governador Eduardo Riedel.

A ministra Simone Tebet fez questão de ressaltar que não havia interesse real de resolver o problema de fertilizantes nos últimos quatro anos, e que a retomada das conversas sobre esse setor pode fazer avançar outras plantas além da UFN3.

“Agora, o governo tem interesse em avançar nesse tema, inclusive ver se vai retomar ou não duas ou três fábricas que estão paradas no Brasil. E aí é outra etapa. A Petrobras vai licitar ela toda pronta ou não? É uma discussão que vamos iniciar a partir de junho”, concluiu.

Produção

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no dia 2 de fevereiro apontou que o funcionamento da UFN3 poderia reduzir em 30,4% os fertilizantes importados pelo Brasil.

Dados da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) apontam que, no ano passado, foram importadas 7,2 milhões de toneladas de ureia. A produção anual da UFN3, quando em pleno funcionamento, será de 1,3 milhão de toneladas, ou seja, 18,3% do total importado pelo País no ano passado.

Já quanto ao outro fertilizante que será produzido em Três Lagoas, a amônia, foram importadas 6,6 milhões de toneladas em 2022. A produção anual da indústria será de 0,8 milhão de toneladas, ou 12,1% do total. Portanto, considerando os dois tipos, são 30,4% de fertilizantes importados que deixariam de ser comprados no exterior.

“A UFN3 realmente responderia por 18,3% da ureia do Brasil e 12,15% da amônia. Então, é um projeto importante para reduzir substancialmente a dependência do Brasil da importação de ureia e de amônia”, disse ao Correio do Estado o titular da Semadesc, Jaime Verruck.

Histórico

A unidade localizada em Três Lagoas começou a ser construída em 2011. A fábrica integrava um consórcio composto por Galvão Engenharia, Sinopec (estatal chinesa) e Petrobras. Quando foi lançada, a planta estava orçada em R$ 3,9 bilhões.

Os responsáveis pela Galvão Engenharia foram envolvidos em denúncias de corrupção durante a Operação Lava Jato. As obras foram paralisadas e a Petrobras absorveu todo o empreendimento desde então. Na época, a estrutura da indústria estava 81% concluída.

Já o processo de venda da planta teve início em 2018, com a Araucária Nitrogenados (Ansa), fábrica localizada em Curitiba (PR). A comercialização em conjunto inviabilizou a concretização do negócio.
Em 2019, a gigante russa de fertilizantes Acron havia fechado acordo para a compra da unidade fabril. O principal motivo para que o contrato não fosse firmado, na época, foi a crise boliviana que culminou na queda do ex-presidente Evo Morales.

No ano seguinte, em fevereiro, a Petrobras lançou nova oportunidade de venda da UFN3. Dessa vez, a estatal ofereceu ao mercado a unidade de forma individual. As tratativas só foram retomadas no início do ano passado, com o mesmo grupo russo.

Em 28 de abril de 2022, a Petrobras anunciou em comunicado ao mercado que a transação de venda da fábrica para o grupo russo Acron não tinha sido concluída. Conforme adiantado pelo Correio do Estado na edição publicada em 21 de fevereiro de 2022, o plano do grupo era “rebaixar” a unidade a uma misturadora, e não manter o projeto original de produzir fertilizantes.

No mês de junho, a Petrobras relançou a venda da fábrica ao mercado, e a ideia era que o processo fosse finalizado até novembro do ano passado. Em 24 de janeiro, a Petrobras anunciou o fim do processo de comercialização da indústria, e a nova expectativa era de que até abril a petrolífera anunciasse a retomada da obra.

US$ 1 bi

Em 2018, quando uma due diligence (vistoria para compra) foi realizada na UFN3, foi constatado que a unidade precisaria de pelo menos US$ 1 bilhão para ser concluída. Até o momento já foram aplicados mais de R$ 3 bilhões em sua construção. Atualmente, não há uma avaliação do investimento necessário para retomar a obra.

 

Fonte: Correio do Estado
 

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