Órgãos captados na Santa Casa de Araçatuba são transportados em avião da Polícia Civil de São Paulo

Sábado, 04 Junho 2022 09:41

ÓRGÃOS CAPTADOS NA SANTA CASA SÃO TRANSPORTADOS EM AERONAVE DA POLÍCIA

Na corrida pela vida, equipe do Incor/SP utilizou avião e helicóptero confiscados do narcotráfico

Um homem de 30 anos, morador de Birigui, que estava internado há 10 dias na Santa Casa de Araçatuba teve os órgãos captados nesta segunda-feira (23) por equipes do Incor e Hospital Albert Einstein, de São Paulo, e do Hospital de Base de São José do Rio Preto. O jovem teve morte encefálica anunciada na manhã de domingo (22), após conclusão de todo o protocolo para esse tipo de constatação.

 

De acordo com a assessoria de imprensa da Santa Casa de Araçatuba, o rapaz deu entrada no hospital no dia 12 de maio, em quadro clinico grave em decorrência de traumatismo cranioencefálico causado em um acidente de trabalho.  

 

“Apesar dos tratamentos ministrados pela equipe médica o quadro clinico não foi revertido e o paciente entrou em protocolo para investigação de morte encefálica que constatou o óbito”, informou o hospital.

 

A partir daí os pais do paciente foram informados por integrantes da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) da Santa Casa, sobre a morte encefálica constatada pela investigação, que mesmo em momento de profunda dor, autorizaram a doação dos órgãos.

 

COMPATIBILIDADE

Pela compatibilidade constatada pela Central Nacional de órgãos foram coletados coração, pulmões, rins e córneas que beneficiarão seis pacientes que estão na fila à espera de transplantes.

 

De acordo com a Santa Casa de Araçatuba, esta foi a terceira captação de multiórgãos deste ano e a primeira de coleta de pulmões e coração.

 

Os rins   foram captados pela equipe do Hospital de Base de São José do Rio Preto. Já as córneas foram coletadas pelo enfermeiro Mateus Tonon e encaminhadas também para o HB.

 

Para que o coração e os pulmões pudessem chegar a tempo de serem transplantados nos pacientes que aguardavam na capital paulista, foram usadas duas aeronaves – um avião de pequeno porte e um helicóptero – apreendidos do tráfico de entorpecentes e que atualmente pertencem à frota da Polícia Civil do Estado.

 

Geralmente, o transporte de órgãos fruto de captação nos hospitais de todo o país é feito por aviões da FAB (Força Aérea Brasileira).

 

CORRIDA CONTRA O TEMPO

Conforme o hospital, a captação dos órgãos começou por volta das 14h. A primeira equipe a entrar no centro cirúrgico foi a de cirurgiões do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, que retiraram os pulmões. De acordo com informações dos especialistas, esse tipo de órgão tem de ser transplantado entre 4 a 6 horas após serem retirados.

 

O coração foi captado em seguida pela equipe do Incor de São Paulo coordenada pelo cirurgião Ronaldo Honorato. O órgão também tem tempo de no máximo quatro horas para ser realocado no organismo receptor.

 

O cirurgião destacou a importância do trabalho realizado pela Santa Casa de Araçatuba junto a familiares de pacientes em morte cerebral.

 

“O momento é de dor para elas e o amor que demonstraram ao doar órgãos do ente querido é de importância imensurável, pois vai representar esperança de vida para pessoas que vivem a angustia de morrer a qualquer momento caso não consigam ser transplantadas a tempo de reverter uma doença grave”, afirmou Honorato.

 

Integrante da equipe de transplantes do Instituto do Coração de São Paulo, o cirurgião informou que de janeiro a maio, já realizaram um total 32 transplantes de coração, 28 dos quais em adultos e 4 pediátricos. De acordo com Honorato, a taxa média de sobrevida de um transplantado de coração é de 88%.

 

Após ser retirado, órgão precisa ser transplantado em no máximo 4 horas. Por isso, captação, traslado e chegada de um coração na sala cirúrgica para ser transplantado exige logística estruturada e sincronizada que pode envolver dezenas de pessoas em todos os elos.

 

Para realizar o 29º transplante, a equipe do Incor utilizou uma logística completamente diferente das demais. “Fizemos um contato com a Policia Civil de São Paulo que disponibilizou uma aeronave que havia sido apreendida em uma ação de combate ao narcotráfico e está devidamente incorporada à frota que a Polícia utiliza em suas operações”, informou Honorato.

 

De acordo com o cirurgião está foi a primeira vez que o avião foi utilizado em uma ação que vai representar vida nova para um paciente. O helicóptero que levou o coração até o Incor também teve a mesma origem.

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