Na oficina de costura do presídio, instalada pela organização não-governamental, as máquinas e tesouras não param. No local, 15 detentos se dedicam seis horas por dia, cortando, costurando e cuidando dos acabamentos dos uniformes. Os trabalhos iniciaram há pouco mais de um mês, com a meta de atingirem 15 mil peças prontas, entre camisetas e bermudas. Parte da produção também está sendo realizada em oficinas da ONG em Campo Grande e Dourados.
Pelo trabalho cada custodiado irá receber R$ 700 mensais, além de remição de um dia na pena a cada três de serviços prestados. Para atuarem com a costura, os internos são selecionados por bom comportamento, aptidão e mais tempo na prisão. Na oficina, eles passam por qualificação.
Luciel Lacerda Leite, 32 anos, é um dos trabalhadores. Sem nunca antes ter tido contato com a costura, o detento tem se destacado nos serviços e conta que descobriu, na oportunidade oferecida no presídio, uma ocupação digna para quando estiver em liberdade. “Estou gostando muito de costurar, é uma profissão e tanto, não é difícil de aprender, basta se dedicar”, comenta.
Com o conhecimento adquirido, ele acredita que poderá ser uma forma de garantir seu sustento e de sua família. “Hoje tenho como meta sair daqui, comprar uma máquina de costura e uma de estamparia e fazer camiseta em casa. Pelo que vi, não necessita de muito investimento, acredito que vai dar certo”, planeja.
Outro fator positivo, garante Luciel, é que o trabalho no local ajuda a “ocupar a mente” durante o período de cárcere. “Temos algo para focar, passamos a acreditar em um futuro melhor, não temos tempo de pensar em coisa errada, saio daqui da oficina e só quero descansar para encarar outro dia de trabalho”, afirma.
A instrutora de costura da Artaban, Romilda Antônio Morais, que coordena a produção, explica que, antes de trabalharem efetivamente na oficina, os internos passam por qualificação, conhecimento que poderá garantir espaço no mercado de trabalho. “Ensinamos os primeiros passos, como conhecer o avesso da peça, juntar uma manga, fazer uma barra etc. Com certeza, sairão daqui capacitados para atuarem na confecção de roupas”, afirma a instrutora. “Nossa intenção é que saiam daqui interessados em produzir alguma coisa, para que não precisem mais fazer o que fizeram”, complementa.
Segundo o diretor da penitenciária, Raul Ramalho, a parceria se concretizou com o apoio do Poder Judiciário e do Ministério Público, através do juiz da Execução Penal de Três Lagoas, Rodrigo Pedrini, do promotor de justiça, Jui Bueno, e do presidente do Conselho da Comunidade, José Rodrigues, colabores ativos da iniciativa. “Tivemos uma audiência com eles, juntamente com a ONG e a Prefeitura. Este apoio dá credibilidade à Penitenciária de Três Lagoas para apresentar um trabalho voltado à humanização da pena”, declara.
Conforme o dirigente, já está sendo “costurado” o convênio para confecção dos uniformes para o próximo ano letivo. “Já conversamos com a Secretaria Municipal de Educação e estamos nos organizando para, a partir deste ano ainda, iniciarmos a confecção para não ter atrasos”, informa.
Para a implantação da oficina, ressalta Raul, a ONG Artaban realizou a revitalização do espaço, garantindo um ambiente mais digno para o trabalho dos detentos. “Estamos felizes com os resultados, e muito contentes e entusiasmados com este projeto”, afirma o diretor.
Para o diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, o aproveitamento da mão de obra prisional na prestação de serviços ao Poder Público gera economia e possibilidade de reinserção social de pessoas em situação de prisão, por meio do trabalho e profissionalização, o que impacta diretamente na redução da reincidência criminal.
Conforme o dirigente, o exemplo de Três Lagoas pode ser replicado em outros municípios e em diferentes trabalhos, como a reforma e produção de móveis. De acordo com Aud, além da confecção dos uniformes no regime fechado, a parceria com a prefeitura de Três Lagoas também está utilizando mão de obra de homens e mulheres, que cumprem pena no regime semiaberto, na reforma e manutenção de escolas e demais prédios públicos, garantindo mais celeridade e redução de custos nas obras.
fonte: Agepen MS